segunda-feira, 15 de setembro de 2014

CALOR

Poema

O calor não me deixa dormir à noite
Isso me irrita profundamente
Depois meus sentidos me matam
O dia lindo lá fora me calcina com sua luz
O simples toque me causa dor imensa
O ruflar de asas de uma borboleta me deixa surdo

O fato é que preciso
Apesar da insônia noturna
Apesar do calor
Levantar-me e ter com o dia

Não há armadura forte o suficiente
Não há escudo contra os golpes
Não há vida após a insônia
Há o arremedo, o arrastar, a rotura
O desgaste, os olhos pegando fogo

O calor não me deixa dormir à noite
Mas me mata de sono de dia
Coze-me os músculos para que não se contraiam
Mata-me de cansaço para que eu esmoreça
O simples fato de ter de atravessar uma rua
É um sacrifício, mas preciso andar um quilômetro todo dia

O calor me derrete os tarsos
Metatarsos e falanges dos pés
Mas eu preciso andar
Ainda que com o toco de pernas que me restam
Ainda que com o que eu puder arrastar

O calor não me deixa menos sujeito
Não me deixa menos humano
Não suspende minhas responsabilidades
Não me torna inimputável

Não, apenas me mortifica

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