terça-feira, 28 de julho de 2015

BRASILIA

BRASÍLIA

A catatonia e o estarrecimento me tomam toda vez que eu preciso pousar meus olhos sobre Brasília
De perto, sua organização, sua ordem se esvaem num halo branco de luz intensa,
E numa imensidão que sobrecarrega as minhas retinas,
Depois de pousar meus olhos sobre Brasília, posso ficar sem olhar pelo resto da minha vida
Brasília levou-me embora os meus olhos,
Mais um momento ali, levar-me-ia tudo,
Tragado pelo vórtice sensorial que Brasília representa


Minha alma quase foi roubada por Brasília
Quase se perde na profusão dos seus espaços excessivamente amplos
O maior e mais inacreditável desperdício da capital da República
É o espaço que Brasília ocupa
São seus ecos, seus vagos, suas grandes extensões de grama amarelada, seca pela estiagem
Suas árvores retorcidas separando
Duas pistas de uma enorme avenida sem cruzamentos, esquinas
Brasília atômica: o espaço vazio entre suas partes ocupadas é a razão de seu volume
Brasília exclusivista: pensada, criada para o automóvel,
Branca,
Acinzentada,
Laminada,
Refletindo o azul cerúleo da imensidade do Planalto Central,
Nos vidros de suas construções alienígenas,
Brasília pós, hiper, ultramoderna,
Acima de qualquer esforço estético de existência,
Brasília da terra vermelha exposta, dos trilheiros a cortar suas áreas verdes queimadas pelo Sol,
Atalhos pedestres numa cidade que não respeita quem tem pés para andar.




Brasília, ontem ainda pensei nas suas ruas, nas suas distâncias, no cheiro de mijo da sua rodoviária.
Na descortesia de seus habitantes
Na distância entre os corações candangos, brasilienses, nordestinos
Nas asas de Ísis, na Fênix a mirar o sol nascente.
Ainda ontem pensei que estava aí, preso na rede de seus espaços vazios,
Na nulidade de seus exageros,



Na impossibilidade de seus espaços imensos, de seus ecos surdos grandiloquentes.

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