Para
mim, o quintal perfeito, ideal, seria aquele em que se coubesse um enorme,
magnífico, africano, vibrante e frondoso flamboyant. O quintal perfeito teria
lugar para minhas cachorrinhas correrem, haveria terra fofa para meus gatinhos
fazerem suas necessidades fisiológicas sem eu ter que limpá-las. Um lugar para
eu estar. Nada de verduras, horta, nada que o sol queime, nada que a chuva
estrague ou que eu tenha que cuidar. Eu quero muitas flores. O quintal
perfeito, para mim, seria aquele em que eu pudesse plantar um litro de sementes
de girassol e pudesse colher uma braçada dessas flores magníficas todo dia, o
quintal perfeito seria aquele em que eu pudesse ter um pé de cada fruta da
minha infância: laranjas, tangerinas, mangas, jambo, amora, pitanga, abacate,
tamarindo. O quintal perfeito seria aquele em que eu pudesse existir nele um
pouquinho todo dia, que me fizesse ouvir o desespero das cigarras antes das
chuvas, que me fizesse ter de salvar um sapo de vez em quando, que me deixasse
ter, caso eu desistisse das flores, algumas galinhas. Para mim, o quintal
perfeito seria aquele microcosmo quase rural mas exatamente urbano, de um lote
que atravessasse a quadra, que tivesse um portão para a outra rua, a rua dos
fundos, que me proporcionasse mais de uma opção para entrar na casa. Eu prefiro
um quintal mais baixo do que o nível da rua, para ter a impressão real de
descer para ele, sempre. Eu acho que um quintal perfeito tem de ter pés de
limão e pimentas. É triste ter um quintal em casa e ter de comprar no
supermercado ou frutaria, limão e pimenta. Para mim, o quintal perfeito é
aquele em que eu pudesse sumir para o fundo dele e ficar lá a tarde inteira,
sem saber que eu poderia estar dentro de mim, mexendo nas minhas plantas
internas, olhando meus bichos mentais, colhendo minhas flores e frutas do
imaginário.
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