sábado, 25 de outubro de 2014

A PORTA

A porta bate
E com ela se fecham
As bocas
As pálpebras
As conversas em aberto
A última fresta de luz
Que ainda havia tristeza adentro
Fecham-se meus dentes
Encaixando-se uns aos outros
Desgastando seu ebúrneo esmalte
Fecham-se meu ouvidos
Agora surdos do bater da porta
Fecham-se os zíperes
Os botões das calças
As tampas dos potes de creme
Do tubo de pasta de dentes
Fecha-se o espelhinho de passar batom
Fecham-se as mãos postas em reza
Os punhos de raiva
Fecha-se a cabeça para o futuro
A porta bate
E ninguém está do outro lado para abri-la
Não há maçaneta do lado de cá
Tudo se fecha quando a porta bate
Os botões de flores regridem-se
A glote se fecha em edema
As narinas se entopem
Os poros se fecham secando a pele
Tudo se fecha

Quando a porta bate

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