sábado, 25 de outubro de 2014

AMARGO

Daí eu me virei e fui embora,
E não mais falei consigo até hoje,
Isso já faz dez anos...
Como eu quero que isso mude de uma hora a outra, assim, sem mais nem menos?

Não dá.
Rancor é um destilado
De ervas amargas,
Mas é doce.

Não saberia mais
Viver sem esse travo na língua,
Sem esse ressentimento,
Sem esse cancro na vesícula.

Eu amo,
Adoro, até,
Odiar você.
Faz todo o sentido do mundo as coisas continuarem exatamente como e onde estão.

Eu lhe odeio.
De morte.
Até o tutano de meus ossos.
Gargalharia se visse você morrendo.

Ou não, ou lhe salvaria,
Carregar-lhe-ia nos meus braços,
A procurar o melhor dos médicos,
Enquanto não chegássemos à emergência
Que deveria salvar a sua vida,
Manter-lhe-ia vivo
Com a força vital de meus beijos sobre os seus lábios em quase morte.

Mas faria isso apenas para que viva.
Para amanhã meu ódio continuar.
Para que não cesse esse sabor do que eu sinto por você,
Esse jiló, essa gueiroba, esse catolé, essa chicória, esse almeirão
Que é seu nome nos meus lábios,
Que é esse ódio tão forte que eu sinto,

Sem o qual talvez eu é que não saiba como viver.

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