A vontade foi
arrancar-lhe
A verdade pela
garganta,
Enfiando-lhe os
meus dedos
Puxando-a direto de
suas pregas vocais
Para que ela não se
escondesse entre seus dentes sujos.
Eu queria que
dissesse a verdade,
Sob tortura mesmo,
já que perguntar não adianta.
Queria que me
dissesse o quanto me odeia,
Mas você continua a
dizer as coisas do modo como sempre diz:
Mentindo.
A vontade foi lhe
socar o estômago
Até que vomitasse o
que tinha a dizer
Chutar-lhe a
barriga até que, junto com o sangue
Aquele que você fez
brotar em mim
Com suas mentiras.
A vontade foi
extirpar-lhe uma a uma
Suas unhas cheias
da merda que sai da sua bunda
Arrancá-las e
fazê-lo comer, uma a uma,
Pedaço a pedaço até
que se sufocasse e morresse,
Enfim.
A vontade foi
lavar-lhe a cara suja
Com soda cáustica.
Essa cara suja das
bundas azedas,
Que você passa os
dias e as noites lambendo
Pensando que alguém
um dia vai se lembrar
Que tenha, de
alguma forma,
Peidado-lhe na
cara, fazendo-lhe o favor
De deixar-lhe
cheirar as tripas.
A vontade foi
arrancar seus cabelos,
Quebrar-lhe os
dedos
Emudecer-lhe
cortando a sua língua
Para não ouvir mais
a sua fala nojenta,
Bajulando gente que
não gosta de você,
Que não lhe
respeita de verdade.
Todo o mal que lhe
desejo ainda parece ser pouco,
Pouco para a sua
sede de humilhações,
Para o quanto você
é capaz de se abaixar
Por tão pouco,
Por atenção de
gente infinitamente mais baixa que você,
Por companhia para
beber a bebida que você vai deixar fiado,
Por passar o dia
inteiro se embebedando,
Principalmente de
lixo que vem das conversas,
Fofocas alheias,
Da sujeira das
ruas,
Do dióxido de
carbono dos carros a passar,
Das maledicências,
Das quais você
também é vítima, mas acha que não é,
Por estar no grupo
daqueles que falam, em pé entre eles
Sempre com esse
sorriso forçado pelo álcool
Sorriso fácil,
vazio
Insignificante.
A vontade é lhe
enfiar uma garrafa abaixo,
Quebrada,
Cacos, tampa de
metal,
Rótulo de papel,
O copo seboso que
anda entre seus dedos,
O cheiro de roupa
suja que você exala
O bafo azedo desse
mijo que você ingere
Comprado com o nome
de cerveja.
A vontade é acordar
uma hora dessas com a notícia de sua morte.
Mas eu sei que seu
corpo é fechado.
Bala, faca, língua,
nada entra nele,
Para falar a
verdade, você tem tentado todo dia se matar aos poucos,
Mas a saúde parece
ter preguiça de ir de seu corpo.
Uma coisa aqui,
outra ali, e você vem mais forte do que antes.
Como me livrar de
você?
O que eu posso
fazer para me livrar de você?
Eu gostaria tanto
de dizer que eu te amo, pelo menos,
Mas não amo. E nem
você me ama.
Mas amor não é
solúvel em álcool, já sabemos disso,
Não se engarrafa,
Não se vende
gelado.
O que eu posso
oferecer?
A sua sorte é o
fato de eu ser covarde,
Enraizado,
endividado,
Dependente.
Se não fosse isso,
Fugiria daqui sem
lhe dar um mínimo de satisfação.
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